Chico Pé de Pato: uma reportagem de gaveta

EM PRISCAS LAUDAS, A HISTÓRIA
DE UM DOS PRIMEIROS JUSTICEIROS
DA CIDADE DE SÃO PAULO 

Em meados da década de 1980, o autor deste blog era repórter de polícia do famigerado Notícias Populares, como o leitor já está careca de saber. Entrevistei Chico Pé de Pato, ou Francisco Vital da Silva numa madrugada, em seu 'quartel-general' na zona leste de São Paulo, onde ele reinava como um dos primeros justiceiros da capital.
Juntamente com o repórter-fotográfico José Maria da Silva, ele foi conduzido ao local - acreditem -  numa 'barca' da Polícia Militar. 'Barca', era o nome que os repórteres davam às viaturas da polícia naquela época - em geral uma perua Veraneio, da Chevrolet. E por que numa viatura da polícia? Por que a dita cuja é quem fornecia as vítimas para o 'justiceiro'.

Mulher e filha estupradas - Nas laudas abaixo - os estudantes de Jornalismo terão a oportunidade de saber o que era uma lauda - está faltando a retranca 2, ou o primeiro intertítulo da matéria. E era justamente nela que estava o porquê Chico se tornara 'justiceiro'.
Sua mulher e sua filha haviam sido estupradas por delinquentes do bairro. Chico foi atrás dos estupradores e deu fim à vida deles. Como, segundo a polícia, eram 'marginais', livraram a cara de Chico. No entanto, ele ficou refém dos 'home' e teve de se transformar em 'justiceiro'. Os caras da polícia forneciam as fichas e ele matava.

Matou um tira e se danou - A reportagem sobre Chico ficou na gaveta. A idéia era engordar a lista de justiçamentos de Pé de Pato, para mostrá-lo como um verdadeiro herói da Zona Leste, ou mais propriamente da região do Itaim Paulista. No entanto, nesse meio tempo, Chico matou, por engano, um policial militar. A casa caiu. Teve que puxar o carro. A polícia que antes fornecia as indições de quem seria justiçado, agora queria liquidá-lo.
Temendo por sua vida, Chico entrou em contato com a equipe do Afnazio Jazadji, que tinha um programa na Rádio Capital. Foi armado um esquema, com a presença de advogado e tudo, para ele se entregar na sede da rádio, na avenida Nove de Julho.

Morreu com 51 estocadas - A matéria foi passada para outro repórter do NP, o Júlio Saraiva. A reportagem deste blogueiro ficou na gaveta. Só a lauda 2 - que contava as razões de ter virado justriceiro - foi aproveitada
Chico entregou-se. Passado algum tempo a mídia esqueceu-se dele. Ele foi jogado no meio de um monte de malacos na Cadeia de Franco da Rocha. Acabou executado com 51 estocadas.
Clique nas laudas para ampliá-las. As laudas abaixo são uma amostra de como funcionava uma redação de jornal num tempo em que não havia toda essa magnifica tecnologia de hoje. Tinha de se escrever em papel, rebater quando errava e colar com goma arábica as retrancas ou emendas.
A máquina de escrever do autor deste blog era uma Roayal. Uma Royal, como se dizia, mil novecentos e bolinha...